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O Jornal Razão apurou com exclusividade informações sobre a operação que movimentou o setor da segurança pública nesta terça-feira, 18 de abril de 2023, no Litoral Norte de Santa Catarina.
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Denominada justamente de Operação Facção Litoral, as investigações da Polícia Federal desvendaram um complexo e multimilionário esquema de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, associação criminosa e outros crimes que seguem em apuração.
"Temos então uma excelente cobertura procurada por todo traficante para dissimular e viabilizar suas ações de traficância: empresas na área de comércio internacional, transporte, consultoria e despacho aduaneiro, com acesso a informações portuárias, sem contar a logística, com caminhões cortando rodovias de todo Brasil e movimentando cargas em contêineres", cita a Polícia Federal num trecho do inquérito, que tramita em segredo de justiça.
Um dos envolvidos é um empresário da região de Porto Belo. O indivíduo em questão, bem como os demais investigados, não pode ter a identidade revelada por conta da Lei de Abuso de Autoridade, já que, até o momento, todos são considerados suspeitos e não há nenhuma condenação, com exceção de Ruan Arno Brockvald, já condenado a mais de 20 anos de prisão.
A investigação que desvendou o audacioso esquema criminoso teve início após a prisão de Ruan. O chefe da quadrilha enviou mensagens, obtidas através da quebra de sigilo autorizado pela justiça, evidenciando o prejuízo de R$ 25 milhões com a perda de um carregamento de cocaína com 700 kg da droga, em Navegantes.
Traficantes carregando caixas com drogas para a residência de Ruan, onde ocorreu a apreensão de 700 kg de cocaína
O traficante é identificado como sendo B. S., conhecido no mundo do crime como "Firmeza".
"Por estarem em posição hierarquicamente acima dos demais membros de uma associação criminosa, jamais terão contato direto com a droga ou a arma que comercializam ou falarão abertamente sobre o assunto. Agem, mediante o domínio final do fato criminoso, prevalecendo-se de seu know how, rede de networking e poderio financeiro que lhes permitem adquirir entorpecentes e armas e fazer sua distribuição para todo tipo de delinquentes, inclusives facções criminosas de âmbito nacional sem contato direto com as mercadorias ilícitas que comercializam. Os integrantres da associação criminosa ora discortinada vivem no conforto material, ostentam padrão de vida sem qualquer lastro financeiro lícito, frequentam bons ambientes e levam vida insuspeitas, porém fometam a violência nas grandes cidades, possibilitando que criminosos violentos e integrantes de facções adquiram armas e drogas em grandes quantidades", diz a PF no relatório.
A prisão de Ruan possibilitou que, através de árdua apuração elementos probatórios, a Polícia Federal pudesse identificar e comprovar a ligação de ao menos 15 pessoas no esquema criminoso.
Após a apreensão da volumosa quantidade de drogas, os suspeitos trataram de retirar definitivamente toda a droga do local, usando para isso um caminhão baú de fretes e mudanças. O transbordo do entorpecente para o caminhão ocorreu em plena luz do dia em horário comercial, no pátio do condomínio, revelando o grau de segurança dos envolvidos.
A sequência de diálogos obtida pela PF aponta para a condição de autor intelectual de “Firmeza” em relação à ação de traficância que culminou no flagrante de mais 700kg de cocaína e que originou o inquérito. O traficante ficou ao menos 20 dias escondido após a grande apreensão feita, bem como deixa nítida a preocupação com as consequências dos prejuízos sofridos, avaliados em cerca de R$ 25 milhões.
Em determinado trecho da investigação, apurou-se que um dos envolvidos, recém-saído do Presídio da Canhanduba, revela problemas com a família de Ruan, que é filho de um vereador da região. Por conta do prejuízo milionário, um dos traficantes diz que agora está no Rio de Janeiro, em “UMA PARADA BEM MAIS ACIMA” (...) “totalmente diferente aí de baixo”.
“Então, os mano falaram, até ouvi falar que eles tavam falando que tava no seguro, entendeu. Que o mano tinha caguetado. Ei, mas lá dentro o mano está sossegado, entendeu? O mano tá no convívio lá, e eu tava trocando uma ideia com ele ali entendeu? Não, mas olha só, eu tava no, nós tava no convívio e eu fui sair essa semana só pô, saí faz um diazinho, dois diazinho, três dias, acho que foi, aí, ele tava de boa, não tinha caguetado nada, tinha ido pra audiência sossegado, entendeu?”
Outro traficante afirma que quem “agiu errado nisso tudo foi o RUAN”, que a “cagada toda dele” e que “PERDI 25 MILHÕES por culpa dele”.
Ainda na apuração, os policiais federais conseguiram relacionar a apreensão de 550 kg de maconha e 41 armas de fogo, incluindo fuzis, com o traficante que morava em Itapema.
Nas negociações entre o grupo criminoso, principalmente com o setor responsável pelo transporte dos entorpecentes e cargas de drogas, ocorreu um atrito por conta da apreensão dos 700kg de cocaína em Navegantes. Isso porque “Firmeza” teria ficado devendo à um dos envolvidos a quantia de R$ 1 milhão.
“O FIRMEZA, o FIRMEZA ele me deve um milhão e pouco irmão, só que, tipo assim, nós perdemos 700 e poucos quilos de cocaína aqui em Navegantes, a maior daqui, da Penha, e aí não me pagou mais frete porque perdeu a mercadoria, entendeu. Ele tem aquela X6 zero porra, um milhão e pouco”, diz o responsável pelo núcleo de logística do crime organizado.
Venda de armas e drogas para traficantes de Florianópolis
Segundo a investigação, o tráfico de drogas e armas não era apenas para outros estados. Ao contrário, diferente da grande parte das ocorrências relacionadas com grandes traficantes, que usam Santa Catarina apenas para a lavagem de dinheiro, o grupo criminoso não apenas morava aqui, como também todos os crimes tinham o ponto de partida em solo catarinense.
Numa das conversas, ocorre um atrito entre o grupo e traficantes do Morro do Mocotó, em Florianópolis. Os criminosos reclamaram com "Firmeza" sobre uma suposta mistura na cocaína adquirida.
"Registramos que G. afirmou ter 2 toneladas de maconha, 50 pistolas e 15 “fura”, referindo-se a fuzis. Logo na sequência, GUGA indicou que seu preço de venda do fuzil calibre .556 era de 65 mil reais. Os interlocutores continuaram a conversa tendo GUGA explicitado que atua no Rio de Janeiro, em regiões como Penha, em Nova Holanda e no Mandela – que é justamente área de atuação de "FIRMEZA" e onde este abriu o restaurante, o M.G. Ainda na conversa com a aparente finalidade de garantir sua seriedade na traficância, GUGA pediu para HNI entrar em contato com um comparsa seu, provavelmente com alcunha “Binho” envolvido na apreensão de “40 pistola, 6 fura e 570 KG de verde”"
Relacionamento com empresários e investimentos em imóveis
A investigação comprovou a posse de inúmeros imóveis de alto padrão na região por parte de “Firmeza”, incluindo a negociação de um apartamento no edifício Yachthouse, em Balneário Camboriú, pela quantia de R$ 7 milhões.
Além disso, destacam-se a propriedade de apartamentos nos edifícios Ocean Tower, Atlântico Sul, Residencial Luísa, Piazza Mayor, em Itapema e Barra Tower, em Balneário Camboriú, além de dois apartamentos em condomínio que está em construção em Porto Belo.
Inclusive, estes apartamentos em construção teriam sido negociados com um dos principais suspeitos de lavagem de dinheiro junto ao grupo criminoso. Isso porque ocorreram diversas negociações e o empresário em questão chegou a manter em seu nome imóveis de propriedade de “Firmeza”.
Há registros do traficante numa das maiores revendas de automóveis da região, conhecida por comercializar automóveis de luxo, onde ocorreu a compra de veículos caríssimos.
Os bandidos também mencionavam o interesse de adquirir – e a polícia investiga se já não seriam proprietários ocultos – uma conhecida boate na Praia Brava.
A operação ainda está em andamento e poderá ter maiores desdobramentos nos próximos dias.