O que está por trás de assassinato após eleição de cacique em aldeia indígena de SC?

Novos detalhes emergem em torno de um caso de assassinato em uma aldeia indígena, alegações de corrupção em meio a líderes indígenas e uma disputa territorial que ameaça extinguir uma cidade em Santa Catarina.

O que está por trás de assassinato após eleição de cacique em aldeia indígena de SC?

Reprodução / Redes sociais

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O assassinato de um líder indígena em uma aldeia após uma disputada eleição para cacique, o controverso arrendamento de terras indígenas para agricultores e a intensificação dos conflitos territoriais estão desencadeando um debate sobre os direitos indígenas e a preservação de suas terras no Brasil.


Assassinato após eleição de cacique

A eleição de um novo cacique em uma aldeia indígena de Chapecó recentemente levou a um terrível caso de assassinato. Rivalidades se acirraram quando alguns membros da aldeia se recusaram a aceitar o resultado do pleito, culminando em violência mortal. As autoridades estão investigando o caso, mas os detalhes ainda estão sendo desvendados. 

O caso terminou com um jovem indígena de 20 anos assassinado, outras 11 pessoas feridas e 17 casas incendiadas na manhã deste domingo (16). Mais de 200 indígenas estão sendo abrigados pela Assistência Social de Chapecó. 

Dois homens, de 20 e 26 anos, foram alvejados por disparos de arma de fogo. O homem de 20 anos, atingido por quatro tiros no peito e no pescoço, morreu no início da tarde de domingo (16). O outro homem passou por cirurgia e segue internado em estado grave. Segundo a testemunha, o autor dos disparos foi um indígena de 32 anos, que já havia proferido ameaças e não foi localizado pelos policiais durante a ocorrência.

Disputa é antiga 

De acordo com o oceanógrafo e co-autor do filme "Pedalando com os índios", Narbal Andriani, o conflito e a tensão entre grupos indígenas naquela região de Santa Catarina, mais precisamente no Oeste e divisa com o Rio Grande do Sul, já se arrasta por vários anos. 

"Quando passamos por lá, fomos informados por indígenas neutros, ou seja, que não estão envolvidos neste rolo todo, acerca da confusão que está por conta de arrendamento e até mesmo venda de terras indígenas. Lamentável", explica Narbal. 

Narbal é colunista do Jornal Razão e, junto com sua esposa Cris e seu filho Pedro, viajam de bicicleta por todo o mundo, criando documentários e reportagens sobre as nuances culturais de cada povo. Cris é a idealizadora do Pedalando com os índios e produziu todo o trabalho junto com seu marido e, agora, com o pequeno Pedro. Em breve, inclusive, retornarão a escrever no JR.


Corrupção e o arrendamento de terras indígenas

Paralelamente, a prática ilegal de vender e arrendar terras indígenas para agricultores tem gerado controvérsias significativas, atingindo comunidades desde o Rio Grande do Sul até Santa Catarina. Um dos envolvidos é um indígena que está envolvido nesta eleição para cacique em Chapecó e está sendo acusado de tais práticas ilegais. Ele e sua família estão sob investigação por supostamente receber dinheiro para permitir o cultivo e a venda de terras indígenas, o que é proibido por lei.

Este problema não se restringe ao sul do país. Recentemente, um dos principais líderes indígenas do Brasil, o cacique Damião Paridzané, foi preso sob a suspeita de receber até R$ 900 mil por mês em propinas para arrendar terras indígenas a fazendeiros. Estas alegações levantam questões sérias sobre a governança e a integridade de alguns líderes indígenas, além dos motivos por trás destes processos.

A disputa por terras em Santa Catarina

Além disso, a cidade de Vitor Meireles, em Santa Catarina, está em meio a um conflito territorial escalonado. A comunidade indígena local busca aumentar uma área demarcada, o que poderia resultar na extinção de toda a cidade. Este conflito tem gerado tensão entre trabalhadores, agricultores e a comunidade indígena.

Os indígenas argumentam que a ampliação da área é necessária para manter sua cultura e modos de vida tradicionais. Por outro lado, os agricultores e residentes da cidade, alguns com escrituras registradas em cartório de mais de 100 anos, defendem seu direito de continuar a viver e trabalhar em suas terras.

No cerne dessa questão está o debate em andamento sobre o marco temporal, que define quais terras pertencem aos índios com base na ocupação em 5 de outubro de 1988. Atualmente, o caso está paralisado no Supremo Tribunal Federal (STF), aumentando ainda mais a tensão entre os envolvidos.

O aumento dos conflitos sobre terras indígenas no Brasil, marcado por casos de corrupção, violência e disputas territoriais, ilustra as crescentes tensões entre os direitos indígenas, os interesses agrícolas e o desenvolvimento econômico.