STF proíbe que mulheres vítimas de violência sexual sejam desqualificadas em julgamentos

Prática envolve questionamentos sobre modo de vida ou histórico sexual em investigação ou julgamento de crimes sexuais ou de violência

STF proíbe que mulheres vítimas de violência sexual sejam desqualificadas em julgamentos

Foto: Lucas Mendes

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O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade nesta quinta-feira (23), que é inconstitucional desqualificar mulheres vítimas de violência sexual com base em aspectos de suas vidas sexuais durante julgamentos. A decisão estabelece que nenhuma parte envolvida em casos de violência sexual, incluindo membros do Ministério Público, poderá mencionar a experiência sexual pregressa da vítima ou seu modo de vida durante as audiências.

Os ministros ressaltaram que tais questionamentos não apenas violam a Constituição, mas também podem levar à anulação do julgamento. A medida foi definida como um padrão a ser seguido em todos os casos similares.

Durante o julgamento, ficou determinado que os juízes têm o dever de impedir essa prática inapropriada durante a investigação e julgamento dos crimes, sob pena de responsabilização administrativa e penal. Eles também são proibidos de considerar qualquer aspecto da vida sexual da vítima ao determinar a sentença do réu.

A ministra Cármen Lúcia, relatora do caso, enfatizou que, apesar dos avanços legislativos para proteger as mulheres, tais condutas discriminatórias continuam a ser perpetuadas, contribuindo para a discriminação e a violência de gênero. Ela destacou que essas práticas perpetuam a ideia de que algumas mulheres "merecem ser estupradas" com base em seu comportamento ou aparência, o que é inaceitável e injusto.

O ministro Alexandre de Moraes comentou sobre o machismo estrutural ainda presente nas audiências judiciárias, expressando a importância de o STF tomar uma posição firme contra tais práticas. O presidente do tribunal, ministro Luís Roberto Barroso, complementou afirmando que a decisão do STF contribui para combater o machismo estrutural em uma sociedade patriarcal.

A ação que levou a esta decisão foi apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que argumentou contra o uso discriminatório e revitimizador de argumentos baseados na vida sexual das vítimas de estupro e violência sexual.